Os movimentos antivacinas

http://www.astropt.org/2018/06/13/dez-mandamentos-contra-a-moda-anti-vacinas/
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Caso o motor do seu carro emita ruídos estranhos, pede conselhos à Fátima Lopes ou à Cristina Ferreira? Não, pois não? O mais certo é procurar o seu mecânico. Porém, no que diz respeito a cuidados de saúde, aparentemente, muitas pessoas estão dispostas a aceitar conselhos médicos de atores/atrizes e outras figuras públicas. A atriz Gwyneth Paltrow, por exemplo, têm uma revista online onde fornece conselhos sobre a saúde reprodutiva das mulheres (e vende produtos para esse fim, claro). Já o ator Jim Carrey é uma empenhado activista do movimento antivacinas. Estes movimentos têm crescido nas redes sociais levando a  Organização Mundial de Saúde (OMS) a considerar a resistência à vacinação como “uma das dez maiores ameaças” para a saúde pública em 2019.

Em 2014, três crianças morreram na Califórnia por tosse convulsa, a difteria ressurgiu em Espanha, em 2015, matando uma criança de seis anos e os casos de sarampo na Europa têm aumentado mesmo em países onde a OMS previa a erradicação da doença.

Os argumentos dos movimentos contra as vacinas são vários:

As vacinas são a causa do autismo:

Este mito surgiu em 1998 quando um médico inglês, Andrew Wakefield, publicou um “estudo” no qual se concluía que a vacina tríplice era a causa do autismo. Posteriormente, descobriu-se que Wakefield falsificou os dados clínicos, tendo recebido 400 000 libras de um escritório de advogados que estavam a processar os fabricantes da vacina. Wakefield foi acusado de fraude e perdeu a sua licença médica.

Em 2007, a apresentadora norte americana Oprah Winfrey, convidou a atriz Jenny McCarthy (que acreditava, após ter estudado na “universidade do Google” (!), que o autismo do seu filho se devia à vacinação) para o seu programa televisivo dando-lhe uma projecção tal que a percentagem de pais que se recusaram a vacinar os seus filhos nos EUA aumentou significativamente.

Teorias da conspiração:

Será que as multinacionais farmacêuticas inventam doenças para ganhar dinheiro com a venda de vacinas? A não ser que acredite que estas multinacionais já existiam na idade média ou no tempo dos faraós, dificilmente poderá crer que a varíola ou a tuberculose foram inventadas pela indústria farmacêutica.

As vacinas já não são necessárias:

Apesar de ter sido graças às vacinas que se conseguiu erradicar muitas doenças, será ainda necessário vacinar maciçamente contra doenças que já não existem ou surgem isoladamente?

Alexandra Vasconcelos, “O Segredo para se Manter Jovem e Saudável

A resposta à questão acima é: sim! Os programas de vacinação, para serem eficazes,  precisam de continuar a assegurar a cobertura de mais de 95% da população. Se a autora do livro de onde esta pergunta foi retirada pesquisasse um pouco, poderia aprender com o que se passou na cidade de Zurique, há bem mais de um século. A vacinação contra a varíola era obrigatória. Porém, como no ano de 1882 não houve registo de nenhum caso, os movimentos antivacinas da época utilizaram este argumento para conseguir revogar a lei. A vacinação deixou de ser obrigatória e, como seria de esperar, as mortes por varíola regressaram.

Atualmente, já ninguém se cruza com rostos desfigurados pela varíola como este que pode ver aqui (a Organização Mundial de Saúde considerou a doença erradicada há cerca de 40 anos). A poliomielite, a difteria e muitas outras doenças infecciosas já não fazem parte do nosso quotidiano. Paradoxalmente, o sucesso dos programas de vacinação fez ressurgir a desconfiança. Estes programas  têm sido tão eficazes que nos fazem crer que as vacinas já não são necessárias. O exemplo de Zurique diz-nos o contrário.

 

Fontes:

Tom Nichols, “A morte da competência”, Quetzal, 2018

Carlos Fiolhais e David Marçal,“A ciência e os seus inimigos”, Gradiva, 2018

scimed.pt: Análise Crítica ao Livro “O Segredo Para Se Manter Jovem e Saudável”